segunda-feira, 10 de setembro de 2018

EU, FOTÓGRAFO


20 ANOS ESCUTANDO ALEJANDRO SANZ

O ano era 1998. Era uma sexta-feira daquelas que eu chegava em casa de noite, vindo de Porto Alegre, onde cursava o Ensino Médio. Eu já tocava minha bateria e tinha um gosto musical fechado, mas prestes a se abrir.
Passei pela TV e estava acabando a novela das 9. As letrinhas subiam e uma música que eu nunca tinha ouvido tocava junto. Era uma música em espanhol. Um refrão forte, uma mistura de pop com flamenco com música cubana. Na manhã seguinte fui a uma loja de discos no centro da cidade e perguntei: "conhece a música da novela?". O cara disse que sim. Perguntei se tinha o CD do cantor. E ele disse que tinha. E eu comprei.
Eu nem sonhava que estava comprando o disco mais vendido na história da música latina. E também não imaginava que ali estava começando uma relação estranha. Ouvi o disco e percebi que "a música da novela" não era a melhor música do CD. Por dias, meses e anos, escutei aquelas músicas. Passei do CD pra uma fita, pois era a única maneira de levar aquele som junto comigo.
Eram 10 músicas. Uma melhor que a outra. "Y, ¿sy fuera ella?", "Ese Último Momento", "Corazón Partio", "Siempre Es De Noche", "La Margarita Dijo No" e por aí vai. Alejandro Sanz estourava em toda América Latina. E eu nem imaginava. Só escutava aquilo tudo e pensava: "cara, como ele conseguiu escrever isso?"
Três anos depois, ainda com a internet engatinhando no Brasil, digitei Alejandro Sanz no "Cadê". Apareceu uma mapa da América do Sul. Amarelo. E um pontinho preto lá pra baixo, perto do Rio Grande do Sul. Cliquei em Buenos Aires e, uns 30 segundos depois, abriu uma página dizendo que o Alejandro Sanz faria show dia 7 de abril no estádio do Velez. E eu resolvi ir. E eu fui.
Cheguei em Buenos Aires no dia do show e no dia seguinte voltei pra casa. Deu tempo de comprar os discos anteriores dele. Deu tempo de comprar o disco recém lançado (El alma al aire). Deu tempo de tanta coisa que parece que fiquei dois anos lá. E foram dois dias.
A música faz isso com a gente. Nos faz perder a noção de tempo. Em 2017, no dia do show "+es+", comemorativo aos 20 anos de lançamento do disco "Más", eu estava assistindo em casa, com minha esposa e com minha filha de 11 dias. Dia 10 de setembro de 2018, 20 anos depois de ouvir a primeira música do Alejandro Sanz, assisti ao filme "Lo que fui es lo que soy". E resolvi escrever alguma coisa.
Ando num momento de rever as coisas. Repensar a vida. Redirecionar algumas situações. O filme fala da vida do Alejandro Sanz. Mas, numa loucura, reviví 20 anos da MINHA vida. Cada música, cada CD, cada turnê, me fizeram lembrar de tanta coisa. Um dos momentos marcantes (da minha vida) foi quando minha mãe me disse: "um dia o Alejandro Sanz vai fazer show aqui e tu vai poder ir ver". Eu pensei: "não viaja, mãe". E ele veio. Em 2013.
Nos últimos 20 anos, eu quis fazer tanta coisa. E fiz. Virei professor. Virei marido. Virei pai. E fiz muitas outras coisas. E sempre escutando Alejandro Sanz. Uma vez até recebi uma ligação de um amigo dizendo: "tá tocando Alejandro Sanz na rádio". As pessoas associavam meu nome ao som do cara.
Quem me conhece sabe o quanto faz sentido pra mim escutar as músicas dele. Nunca toquei uma música do Alejandro Sanz no palco, valendo. Mas, na minha imaginação, já toquei até show com ele!
Nesses 20 anos, conheci muito da carreira, as músicas e os clipes, documentários e agora o filme. O livro ainda não tenho. Só quando sair em português. Nunca dei muita bola pra vida pessoal do cara. Isso nunca me interessou. E ainda não me interessa. Só quando as músicas falam de seus filhos. Por falar em filhos, conheci o "seu Jesús", pai do Alejandro. Tive a honra de dividir o elevador com ele no primeiro show que fui, lá em 2001. Graças a ele, consegui entrar (e ficar) no camarim pra conversar com o Alejandro Sanz.
Alejandro Sanz sempre diz coisas muito legais. Olha o que ele disse no filme: "Você recebe todo tipo de opiniões. Uns dizem que gostam e outros dizem que não gostam de você. É preciso estar aberto mas, ao mesmo tempo, ter um escudo emocional. É difícil saber o que fazer. Como fazer os dois ao mesmo tempo? É muito difícil." Podemos trazer isso pra nossa vida. Ninguém agrada a todos. Todos temos nossas falhas. E precisamos admitir isso. Mas também precisamos ouvir quem gosta da gente. O mais legal é seguir adiante, andando sempre.
E foi nessa parte do filme que percebi que muito do que penso e sinto está relacionado ao que ouvi nos últimos 20 anos. Que bom que foi muita coisa boa. Que bom que foi coisa útil. Que bom.
A gente fala aquilo que nosso coração tem. Hoje, ao escrever essas palavras, meu coração transborda alegria, nostalgia, saudade, emoção... Uma vontade de reviver algumas coisas, vontade de curtir alguns momentos de novo, mas a certeza de que fiz o meu melhor em todas as fases da minha vida. Isso, de certa forma, me dá uma tranquilidade. Não sou mais o mesmo de 20 anos, mas sei que continuo o mesmo adolescente que queria entender "cara, como ele conseguiu escrever isso?" A sensibilidade da música me fez ser que eu sou. E não me arrependo disso. Pelo contrário!
Pra marcar os 20 anos ouvindo Alejandro Sanz, gravei um vídeo tocando Enséñame Tus Manos. Tá no Facebook e no Youtube.